domingo, 14 de outubro de 2007

Trio fraquiniano

Nunca almejou a obre nem a lua porque nunca havia se sentido só, mesmo estando só, achava que esses factos da solidão seriam apenas para os fracassados espiritualmente. Imagino que os únicos laços que o seu pensamento unia seriam através do mundo irreal que verdadeiramente compunham a mente fraquiniana, como insana. Gostava de imaginar o mundo, um tanto igual ao que vivia, mas com seres e fantasias diferentes. Sózinho, viajava sem se mover 3 metros. Preferia a chuva, onde preparava as suas receitas dementes em cima da arca do escritório, preferia encher de essência o compartimento, e de olhos fechados deixar-se tombar carnalmente dentro da tina de água. Louco para os demais!
Era o Homem do Fraque! Conduzia semanalmente um mercedes durante a madrugada (embora discreto) , em direcção ao recanto arrebatador de Sagres, desejando que o corpo imprimisse no mar a levitação. Por vezes, possuía um ar insólito, não de cobrador adulterado das finanças, porque nunca se deu muito bem com a gestão do capital, mas teria um registo criminal confinado ao de uma casta, até aos 49 anos. Até aí nunca se havia inserido em disputas, nem mesmo ecológicas ou políticas, a única disputa que conhecia seria quando se sentava calmamente no cadeirão da sala, lograva de um trago apaixonante ao mesmo tempo que os blues de fundo o invadiam, e a mente, teimosa, o obrigava a parar o voo. Não era homem de grandes balbúrdias sociais, mas a Europa, mais concretamente Amesterdao e St.Moriz, viríam a ser para ele o maior ponto, por assim dizendo, de praxe!
Quando chegou a Amesterdão teria o intuito de gozar dos melhores museus, das melhores especiárias, mas numa das suas tranquilas noites pelo bairro Amesterdão, Oud-Zuid, simpatizou(por acaso) com um homem, que sem ele ter conhecimento, seria um dos líderes de uma rede de trafico (...) internacional! Conversas avivam ideias, ideias estimulam actos, actos arrastam actos, e em meia dúzia de noites lá estava o Homem do Fraque acompanhado por mais dois homens do fraque (não com a mesma autenticidade) dentro do seu Mercedes, este que primeiramente teria servido para estas conjunturas nocturnas.
O que faria este trio fraquiniano em Amesterdão, actuando perante o isolamento? Seria o Homem do Fraque assim tao pacifíco?

Europa boémia

Teria uma família em L Angels ! Constantemente distante, pai ausente, entregue ao mundo, a corpos inanimados e seres vivos, tornou a sua vida monótona um circo de prazeres. Sempre gostou da dita cuja, boémia. Despreocupado com as amarras de um matrimónio lampo, cedo partiu de casa deixando a mulher e os rebentos caídos no colo de uma governanta seca.
A América nao lhe obedecia, escolheu a Europa.
Acomodou os interesses e a mala, fez sinal a um táxi e partiu em direcção ao terminal mais próximo,sem se despedir dos laços.
Distinguíu Paris, Amesterdão, St.Moriz e mais tarde seduzido por Portugal, assentou o corpo em Sagres. Especialmente em Paris vestia o seu fraque todas as noites. Mil e uma mulheres se teriam enamorado pelo homem robusto que começava todas as noites o mesmo jogo de poker e pedia o mesmo whisky. Deixou-se levar pelos contornos cativantes de uma mulher Françesa. De pele clara, cara fina, deslizava o cabelo cor de mel pelos ombros num gesto sensual, arrepiando-lhe a espinha com a sua pequena boca de lábios bem rosados. Gozou momentos de extravagância com a Francesa. Seria um homem desprendido e viríl mas tornaria-se arriscado, insípido e reservado com as outras duas viagens que realizaria um pouco mais tarde.
Quando Paris já não lhe prendia o ego, partiu para Amesterdão e depois para St.Moriz, onde conheceu grupos que actuavam em campos ilícitos. Deixou-se levar por arrasto, tornou-se hábil, sentia prazer na adrenalina, mas nem por isso deixava de trajar o Fraque para usar uns trapos de ganga.
Dizia que lhe encobria o ar ousado e o tornava intelectual, por excelência!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Corpo de fraque andante

Feriu os contornos da boca com copos calibrados de líquido, cor de limão, e por momentos teve visões da Terça - feira á noite. Estendeu a mão do bolso e atirou com umas moedas para o balcão. Estonteado pelo arrombo do trago, tornou-se apático ao desejado sol da manha, saíu da baiuca e parou em frente a uma papelaria onde subornou os melhor cigarrets que viu. Um dom natural que o domina. Não falando, apenas guiando o olhar deixa incrédula a jovem tenra, que se aproxima para servir-lo com as melhores folhas secas para abemolar a alma . Corpo de fraque, andante.

10 de Outubro


Bateu a porta da cave e logo se adiantou para apanhar os primeiros raios de sol que o dia 10 de Outubro lhe oferecia. Não que o sol fosse a sua fonte de insuflação para um dia equilibrado, mas pelo menos secar-lhe-ia a cara dos quartos de hora cruentos que a Terça - feira á noite lhe cobrava. Saiu em direcção a um passeio de berma escassa, enquanto tentava escapar a um cadrúpe carnívoro doméstico que desprendia ruidosamente uns latidos, como se de um pedaço de pedigre escondido na sua meia, se tratasse. Incomodado, sacudiu o prezado fraque escuro que trajava e continuou no sentido do sol. O fraque, teria encomendado da Suiça, para vesti-lo em dias de Quarta - feira, que segundo "ele" seriam sempre apaziguadores, enquanto os pedidos dos ínclitos quartos de hora surgissem. Notava também que o ar um pouco intelectual não lhe deixaria a reverência atrás.
O sol ter-lhe-ia sido vedado por um toldo de uma baiuca, onde decidiu entrar para caprichar no seu habitual trago matinal. A cara robusta secará num ápice e talvez tivesse tempo para ler os classificados do jornal, não fosse ele encontrar um melhor ofício para as Terças – feiras á noite.
Fez sinal a um funcionário e solicitou o melhor líquido para a cautela.